A saúva e o Brasil. Por Alexandre Garcia*


 a verdade, o que estamos semeando se chama depressão. Sem produção não há arrecadação para custear a saúde e pagar o funcionalismo. Sem produção não se pagam impostos nem credores nem empregados.

 
Há 200 anos, o naturalista francês Auguste de Saint Hilaire, que percorreu o Brasil por seis anos, advertiu: “Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil”. Nestes tempos de recolhimento que nos fazem pensar, a advertência continua atual. A formiga já está sobe controle, mas há muitas saúvas que insistem em acabar com o país, ainda que depois da devastação nada mais tenham para se sustentar. Entre elas está a saúva do masoquismo. Não precisamos sofrer para pagarmos nossos pecados e ganhar a vida eterna. Se ficarmos à mercê dos arautos do medo, seremos presa dessa saúva. Intimida e reina.
Nesta virose, aplaudimos enterros e corruptos e ignoramos heróis, Amyr Klink atravessou remando sozinho o Atlântico Sul, na Namíbia à Bahia, que não lhe caiu um único pedaço de papel picado nas grandes avenidas do país. A professora Helley Batista deu a vida salvando 25 crianças, mas é uma desconhecida na maioria das escolas brasileiras. Entregamos os impostos gerados pelo nosso trabalho aos que saqueavam nossas estatais e serviços públicos e não apenas ficamos calados, mas os reelegemos.
Agora, o herói é o coronavírus. O Brasil está posto de joelhos diante dele. Virose, neurose, psicose, são apenas rimas e não são a solução. Estão sendo cautelosos os economistas que preveem uma profunda recessão se continuarmos assim. Na verdade, o que estamos semeando se chama depressão. Sem produção não há arrecadação para custear a saúde e pagar o funcionalismo. Sem produção não se pagam impostos nem credores nem empregados.  Sem caixa, companhias aéreas não pagam combustível e não decolam. Sem dinheiro, não se come. E dinheiro não cai do céu nem vem de graça como o vírus.
Municípios com zero coronavírus foram paralisados por prefeitos com neurose agravada pela proximidade da eleição municipal. Não há soluções simples. A Itália pôs todos em casa, e os jovens levaram o vírus para os idosos acamados em domicílio. É preciso proteger os de saúde já debilitada, e considerar que o Brasil é um país continente. O que é preciso fazer em São Paulo ao será preciso no Pará. O que é preciso fazer onde houver um único caso não será necessário em lugar sem registro algum do vírus. Quase 30% da população da Itália  são de idosos. Europeus ainda fumam muito; nós estamos entre os países com menos fumantes, com menos gente de risco. Então, é preciso a cada dia avaliar a atividade do vírus e a atividade econômica. E dar a ambos a dose certa para preservar os brasileiros. 

*Publicado no Correio Braziliense, de 25 de março de 2020, caderno Política, p.3.

COMENTO

O presidente Jair Bolsonaro é muito espontâneo, um falastrão a bem da verdade. No entanto, nesse ponto especificamente devo concordar que a situação de paralisação do país é preocupante, pois pode nos levar a uma recessão pior do que a deixada pelo último governante petista.  
Como bem ressaltado no texto, é preciso avaliar e monitorar a evolução epidêmica do Covid-19 concomitantemente ao desempenho da economia. Devemos nos lembrar que o país ainda possui milhões de miseráveis e desempregados. A paralisação de indústrias, comércio e serviços por um longo período deixará uma legado  pior do que o Corona Vírus. 
Aguardemos quais decisões governos estaduais e federal vão adotar para que possamos retornar às atividades de maneira tranquila, mas com responsabilidade. 

Roner Gama

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