Aos
poucos e sem muito alarde, para não melindrar a opinião pública, a Lava-Jato,
ou seja, a mais importante operação contra a corrupção e lavagem de dinheiro
feita em toda a história do nosso país, vai, como alguns haviam prevenido,
sendo desmontada, peça por peça, graças à ação de forças poderosas dentro e
fora da máquina do Estado. Esse desmanche nas esperanças d muitos brasileiros
de bem vai sendo seguido, pari passu
com uma sequência de vitórias nos tribunais superiores, inclusive no Supremo
Tribunal Federal, de ações impetradas pela defesa do ex-presidente Lula, o mais
vistoso e implicado dos personagens dessa que foi mais exitosa operação do
Ministério Público e da Polícia Federal em todos os tempos. Trata-se, aqui, de
autoflagelação imposta por parte de agentes da Justiça à própria Justiça às
leis, tornando letra morta a maioria dos artigos que compõem os códigos civis e
criminais.
Nesse
processo que vai comendo pelas beiradas o que parecia ser o nascimento de um
novo Estado, livre, depois de séculos de desmandos e privilégios dos poderosos,
a mais surrealista das cenas parece estar
prestes a acontecer, com a punição não dos criminosos, mas com a condenação
daqueles corajosos juízes e promotores que ousaram peitar de frente e à luz das
leis os delinquentes de colarinho-branco. Na rabeira da reabilitação forçada do
ex-presidente, outros criminosos, tão daninhos quanto ele, vão sendo libertados
uma a um, o que só faz confirmar a visão popular de que a aplicação e o rigor
das leis, em nosso país, só é adotada contra os pobres, os pretos e a outros
brasileiros menos favorecidos.
Aos poucos e sem muito alarde, para não melindrar a opinião pública, a Lava-Jato, ou seja, a mais importante operação contra a corrupção e lavagem de dinheiro feita em toda a história do nosso país, vai, como alguns haviam prevenido, sendo desmontada, peça por peça, graças à ação de forças poderosas dentro e fora da máquina do Estado
Depois da abdução do Juiz Sérgio Moro, enganado pelo canto das sereias, com a promessa de que poderia, no Ministério da Justiça, dar continuidade no combate ao crime, chega a vez, agora, do procurador da República Deltan Dallagnol, desgastado e cansado de tanta perseguição vinda de todos os lados, sobretudo de próceres da própria Justiça.
Trata-se
aqui, à semelhança de Moro, de um dos mais sérios e probos profissionais da
Justiça, lançado aos leões e à sanha de personagens como o próprio procurador–geral
da República, Augusto Aras. São contra o que chamam de lavajatismo esses personagens, saídos da sombra, insurgem-se, mesmo
sabendo serem contra a vontade da maioria dos cidadãos.
Não
por outra razão, manifestações populares começam a ser agendadas em todo país,
num esforço desesperado, genuíno e apartidário, em favor da continuidade da
Lava-Jato e da punição desses maus brasileiros, que hoje todos reconhecem como
responsáveis diretos pelas mazelas geradas pelo subdesenvolvimento crônico do
Brasil.
A
esse cenário de desesperança generalizada, soma-se a decisão tomada, agora,
pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que, por 5 votos a 2, autorizou
políticos declaradamente fichas-suja a disputar as eleições municipais deste
ano. Além do fim da identidade biométrica durante as eleições, que continha um
fio de controle sobre os eleitores, agora, milhares de corruptos, condenados,
poderão voltar à cena e, com isso, dar continuidade aos seus delitos, sobe as bênçãos
da Justiça e, pior, com imunidade para, mais uma vez, delinqüir em paz. Esse é
o Brasil que, por certo, não queremos, mas que é imposto por circunstâncias
contrárias à vontade da maioria. Lamento dos representados e júbilo dos
representantes do povo.
*Por Circe Cunha. Publicado
no Correio Braziliense de 3 de setembro de 2020, caderno Opinião, p. 11.