A
urgência do ensino médio
MOZART
NEVES RAMOS – Membro do Conselho de Governança do Todos
Pela Educação e do Conselho Nacional de Educação, e professor da UFPE.
No
início da gestão do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, uma importante
decisão foi tomada: o Brasil precisa fechar de vez a “torneira” do
analfabetismo. É preciso que todas as
crianças estejam alfabetizaas pelo menos até os oito anos de idade. O
secretário de Educação Básica, Cesar Callegari, não perdeu tempo e saiu a
campo: trouxe todos os atores diretamente envolvidos com essa etapa
educacional, especialmente a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação
(Undime), e elaborou um programa de alfabetização que inclui formação docente,
material didático de boa qualidade e avaliação. Em menos de um ano, o Pacto Nacional pela Alfabetização
na Idade Certa (Pnaic) foi estruturado e em breve será lançado oficialmente.
Esse é um exemplo de convicção, decisão política, coragem e investimento
direcionado para uma etapa tão importante.
Na
outra ponta da educação básica está o ensino médio, com diversos problemas que
desencadeiam baixos indicadores de aprendizagem. Esses problemas não são de
hoje, já vêm de longe, e seus efeitos começam a se tornar mais nítidos agora.
Sem resolvê-los, o país não atingirá uma das metas do novo Plano Nacional de
Educação (PNE): o de elevar a 33% o percentual de jovens de 18 a 24 anos no
ensino superior. Vale lembrar que essa já era a meta do PNE que se concluiu em
2010. Nem sequer nos aproximamos desse percentual ao seu término, chegando a
apenas 14,6%.
De antemão,
sabemos que essa será uma das metas mais desafiadoras do plano , em função da
crise que o ensino médio vem enfrentando. Faltam professores, um currículo
atraente e escola de tempo integral. Enquanto isso, o Ministério da Educação e
os secretários estaduais de Educação não se entendem. A conseqüência desse
descompasso em relação ao ensino médio pode afetar diretamente o crescimento do
país, que vive hoje uma boa onda econômica.
Ou o
Brasil forma bem os jovens de agora ou não teremos quem sustente a sua economia
num futuro próximo. Faltará ─ o que já se vem observando nos mercados internos
em expansão ─ mão de obra qualificada para atender as demandas. O Brasil terá
que importá-la, enquanto os nossos jovens ficarão à margem do processo
produtivo.
Para
tentar ajudar a resolver o problema da mão de obra qualificada , as empresas e
o Sistema S (Senai, Senac, Sesi, Sebrae e outros) começam a investir fortemente
no aumento de escolaridade de seus trabalhadores, tal como vem fazendo o Sesi/SC. Essas iniciativas vêm contribuindo
para a redução da desigualdade de renda. Números do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea) revelam que o aumento da escolarização da mão de obra
fez cair a diferença salarial entre os que
têm menos e mais instrução. Uma das conseqüências foi que o índice de Gini ─
indicador que mede a distribuição de renda ─ baixou de 0,552 em 2001 para 0,485
em 2011. Pela primeira vez, ficou abaixo de 0,5 ─ e quanto mais próximo de
zero, melhor a distribuição de renda.
Mas
muito do que se investe hoje em educação é para tapar o buraco deixado pela
baixa qualidade do ensino oferecido. Uma situação análoga à da formação continuada
de professores, que deveria ser uma atualização e uma nova qualificação, e não
uma formação complementar à inicial, como acontece.
O
Brasil precisa resolver o problema do ensino médio. Não há mais tempo. Um país
que quer ser protagonista num cenário mundial competitivo não pode se acomodar
com uma geração nem-nem ─ jovens que nem trabalham nem estudam. Segundo estudo
do Senai, o país tem hoje 5,3 milhões de brasileiros entre 18 e 25 anos que estão excluídos do
mercado de trabalho e do ensino formal. Para esses sobram profissões de baixa
remuneração, que não exigem o ensino médio. Ocorre que nos tempos, com mudanças
tecnológicas tão intensas, as mudanças estruturais são cada vez mais rápidas
nos meios de produção. Assim, em médio prazo, esses trabalhadores precisarão de
maior escolarização, seja para aperfeiçoar a educação num curso universitário,
seja para fazer um curso profissionalizante.
Nos
pais há alguns poucos modelos, já em escala razoável, de bons programas de
ensino médio, a exemplo das Escolas de Referência de Tempo Integral, em
Pernambuco. Porém, diferentemente do pacto nacional que vem se estabelecendo
pela alfabetização de crianças na idade certa, para melhorar o ensino médio,
ainda faltam entendimento, cooperação, humildade e investimentos. É preciso
estabelecer também um pacto pelo ensino médio, e o mais rápido possível!
fonte:Correio Braziliense. quinta-feira, 1º de Novembro de 2012. OPINIÃO, p.17