A ARTE DE MORRER . “Mas como se ririam então, e como pasmariam de nós aqueles homens imortais! Como se ririam das nossas loucuras, como pasmariam da nossa cegueira, vendo-nos tão ocupados, tão solícitos, tão desvelados pela nossa vidazinha de dois dias, e tão esquecidos e descuidados da morte, como se fôramos tão imortais como eles? Eles sem dor, nem enfermidade; nós enfermos, e gemendo; eles vivendo sempre; nós morrendo; eles não sabendo o nome à sepultura; nós enterrando uns aos outros. Eles gozando o mundo em paz; e nós fazendo demandas e guerras pelo que não havemos de gozar. Homenzinhos miseráveis (haviam de dizer), homenzinhos miseráveis, loucos, insensatos, não vedes que sois mortais? Não vedes que haveis de acabar amanhã? Não vedes que vos hão-de meter debaixo de uma sepultura, e que de tudo quanto andais afanando e adquirindo, não haveis de lograr mais que seis pés de terra! Que doidice, e que cegueira é logo a vossa? Não sendo como nós, quereis viver como nós? Assim ...