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Mais educação menos violência.



Entre os muitos indicadores sociais e econômicos que colocam o Brasil em situação difícil, estão os dados de homicídio. Por ano, cerca de 60 mil pessoas são assassinadas, ou seja, 10% do número de mortes por violência no planeta. Entre as vítimas, 53% são jovens, na faixa de 15 a 24 anos. Na outra ponta, estudo lançado, na quinta-feira, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), reforça a importância da educação na redução da violência que afeta a todos independentemente da idade. A cada 1% a mais de jovens na escola há uma queda de 2% na taxa de crimes letais.
O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgado no mesmo dia, mostrou que a educação no país vai de mal a pior na maioria das unidades da Federação. Realizado a cada dois anos, envolvendo as redes públicas e privadas, o estudo mostrou que o ensino médio, que concentra os jovens, está estagnado, longe de alcançar a meta de 4,3 definida para o último biênio. Permaneceu com índice de 3,7 aferido em 2011, na média dos estabelecimentos de ensino. As causas são as mais variáveis e entre elas está a incapacidade de a escola ser atraente aos alunos.
O artigo de Daniel Cerqueira, técnico em planejamento e pesquisa do Ipea,  sobre criminalidade e o papel da educação, destaca que “o modelo educacional brasileiro procura precipuamente incutir na memória de crianças e adolescente um conjunto enciclopédico de informações que não dizem respeito às motivações dos estudantes”. Mas outros fatores também influenciam o comportamento de crianças e jovens, a começar pela família. No espaço da casa, os conflitos entre os pais, pelos mais diversos motivos, comprometem a formação da criança e do adolescente. As crises domésticas são mais intensas em lares com baixo poder aquisitivo, onde a carência de meios básicos à sobrevivência, invariavelmente, estimula os estranhamentos entre os integrantes do grupo familiar, o que impõe desvantagens às crianças.
A escola, por sua vez, enfrenta dificuldades para lidar com jovens saídos de ambientes desestruturados e neles introjetar valores de sociabilidade e cidadania. Além disso, quando mais velhos, eles sofrem também a truculência de agentes externos, sobretudo policiais que atuam em regiões carentes, onde o índice de violência tende a ser  mais elevado. Nesse processo, o jovem está pronto para reproduzir onde vive as agressões enfrentadas dentro e fora do lar.
Tanto o resultado do Ideb quanto o estudo do Ipea indicam que o poder público tem que repensar a educação como instrumento inclusivo e estimulador à reconstrução de uma sociedade em que os valores da cultura de paz sejam dominantes. Dessa forma será possível tirar o Brasil do ranking mundial das nações  mais violentas. Trata-se de tarefa que começa pela revisão dos conteúdos didáticos, afinando-os com a realidade da vida das crianças e jovens.
Os técnicos reconhecem que grande parte do conteúdo das disciplinas é desinteressante, estão em plano abstrato inalcançável ante a realidade em que vivem os estudantes. Esse distanciamento leva à reprovação e, por fim, à evasão escolar. Sem chances no mercado de trabalho, por falta de capacitação, a rua é o destino do jovem. É nesse espaço que ele se torna vulnerável à criminalidade, sendo autor e vítima dos atos de violência. A superação passa por políticas que reduzam as desigualdades socioeconômicas e sejam, ao mesmo, capazes de transformar a escola em ambiente agradável, onde o conhecimento seja inspirador e capaz de formar cidadãos para as questões práticas exigidas pela vida.

Fonte: Correio Braziliense, 11 de setembro de 2016. Editorial. Visão do Correio. 


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